Thursday, 29 May 2014

Sasol, a sul-africana que apostou alto no gás dos EUA

"A protagonista é uma empresa chamada Sasol, antiga estatal de petróleo da África do Sul, que está embarcando no que poderia ser o maior projeto de investimento estrangeiro individual da história dos EUA.
A Sasol está construindo um complexo energético de mais de 1.200 hectares numa área pantanosa de Lake Charles, na Louisiana. Aproveitando o gás natural barato extraído de formações de xisto através da técnica do fraturamento hidráulico — ou "fracking"—, bem como os gasodutos e a infraestrutura de transporte existente ao longo da costa do Golfo, a Sasol planeja gastar até US$ 21 bilhões no projeto.


É uma missão cara, complexa e suja. A Sasol espera transformar o gás em etileno, um químico bruto usado na fabricação de plásticos, tintas e embalagens de alimentos. Ela também planeja converter o gás em diesel de alta qualidade e outros combustíveis, empregando um processo aprimorado por cientistas nazistas para abastecer seus tanques Panzer. O Estado da Louisiana até liberou US$ 2 bilhões em incentivos para que o plano se concretize.
A Sasol é, assim, uma metáfora para o que ainda não compreendemos sobre o boom de gás dos EUA. A maioria sabe o que o fraturamento hidráulico significou para os preços do petróleo e gás. Mas como grande parte do trabalho ainda não começou, poucos apreciam a verdadeira magnitude da industrialização que está prestes a começar.
Podemos interpretar a coisa desta forma: Um Qatar está sendo construído na Louisiana. Do nada, empresas estão levantando cidades inteiras com fábricas de fertilizantes, polímeros, papel e amônia, centros manufatureiros de boro e terminais de metanol.
Ao todo, 66 projetos industriais — avaliados em cerca de US$ 90 bilhões — começarão a ser construídos na Louisiana nos próximos cinco anos, de acordo com uma entidade que representa a indústria do Estado. Bilhões de outros novos investimentos podem surgir, diz o secretário de desenvolvimento econômico da Louisiana, Stephen Moret. Resta saber quantos projetos serão realmente concluídos.
Em meio ao boom, a visão da Sasol é especialmente audaciosa. O histórico das indústrias que transformam gás em líquido é conflitante, permeado de excesso de custos e problemas tecnológicos. Se os preços do gás sobem, ou os preços do petróleo caem, elas podem rapidamente gerar enormes prejuízos. Atualmente, os ventos estão a favor da Sasol. O petróleo está sendo vendido em torno de 24 vezes o preço do gás natural. Em 2007, a relação era de cerca de sete vezes. A Sasol precisa que ela esteja em pelo menos 16 vezes para ganhar dinheiro.
A Sasol já atuou muito na conversão de carvão em combustível, algo necessário durante o apartheid na África do Sul, quando o fornecimento de petróleo era restrito devido a um embargo. A empresa também é uma desbravadora, tendo levado seus negócios para o Qatar, Irã, Uzbequistão e Nigéria.
As sanções americanas forçaram a Sasol a deixar o Irã. Os imãs iranianos não são sócios fáceis de lidar e é por isso, em parte, que a o diretor-presidente da empresa, David Constable, gosta de fazer negócios nos EUA. "Do ponto de vista de logística [...] é o número um do mundo", diz ele. O acesso ao gás barato, clientes, capital, legislação e facilidade de construção "preenchem todos os requisitos. Não poderia ter acontecido em um país melhor".
Os rios e canais da Louisiana são uma enorme vantagem, tornando mais fácil para a Sasol transportar o material necessário — incluindo quatro reatores químicos de 2.000 toneladas — e produtos por barcos.
E há os gasodutos, que tornam mais fácil o acesso ao gás dos campos de xisto do Texas."
"É por isso que é muito mais difícil apostar alto no gás de xisto na China ou na Europa. [...] Se observarmos os gasodutos em todo o país, é como uma teia de aranha", diz Constable.
Fonte: WSJ

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