Monday, 10 February 2014

Como a crise na Argentina pode afetar o Brasil?

Imersa em mais uma turbulência econômica, a Argentina viu recentemente sua moeda, o peso, sofrer a maior desvalorização num único dia dos últimos 12 anos. A queda acumulada é de 8,43% ao ano.
A manobra é impulsionada pelo governo, que quer evitar a fuga de dólares do país e o aprofundamento da crise. E o Brasil deve, sim, sentir efeitos dessa crise, segundo especialistas.

A desvalorização do peso vem com uma alta ainda maior dos preços dos combustíveis, alimentos e uma série de outros produtos. Os salários, no entanto, não tem acompanhado a inflação e a defasagem nos rendimentos é outro problema. Em dezembro, policiais de várias províncias entraram em greve, abrindo caminho para uma onda de saques e distúrbios no país.Atualmente em cerca de US$ 29,1 bilhões, as reservas argentinas se encontram em níveis preocupantes - o "mínimo do mínimo", dizem economistas. Em comparação, o Brasil detém reservas de cerca de US$ 350 bilhões, segundo números do Banco Central atualizados em dezembro de 2013.
Além de representar, na visão de muitos analistas, o resultado de anos de políticas econômicas arriscadas, a turbulência coincide com instabilidade dentro e fora do país.
No cenário interno, o que preocupa é a instabilidade política e a descrença de parte da população na capacidade do governo de Cristina Kirchner de resolver os problemas, além de um clima de animosidade entre as autoridades e o empresariado.
Já no âmbito internacional, a atual recuperação da economia americana faz com que muitos investidores migrem seus recursos de países emergentes para os Estados Unidos - a chamada fuga de capitais, que nos anos 1990 chegou a quebrar nações em desenvolvimento. Na lista dos países afetados recentemente estão Argentina, Turquia, Índia, África do Sul e o Brasil.
De volta à situação do Brasil, Matesco, da FGV, relembra que o investidor já está olhando o país com maus olhos devido aos nossos próprios problemas. "Se o investidor de curto prazo tem outras opções pelo mundo, não vai se arriscar por aqui. Vamos sentir um impacto. Já quanto aos de médio e longo prazo, (como) as multinacionais e os grandes grupos, acho que não. Não estar no Brasil é não estar na América Latina, ninguém quer isso."
Mas há os que apostem que o investidor internacional tenha em mente que o Brasil realmente "descolou" dos vizinhos. "Esse impacto no fluxo de capitais será nulo. Ao contrário do que acontecia nos anos 1980, quando algo no México já fazia com que os investidores saíssem correndo do Brasil, existe hoje essa percepção de descolamento da Argentina em questão de condução de política macroeconômica", diz Ribeiro, do Insper.
Os entrevistados mostram consenso quando questionados sobre uma possível "ajuda" brasileira aos vizinhos. Há pouca margem de manobra e é pouco provável que isso aconteça.
Ainda na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, deixou claro que o país está "preparado" e possui reservas suficientes para não se abalar pela crise na Argentina. Já a presidente Dilma Rousseff deixou claro que após conversar com a colega argentina recebeu garantias de que os vizinhos resolverão seus problemas sozinhos e de que não recebeu pedido de auxílio.
Uma possibilidade aventada pelos economistas é a compra da safra excedente dos vizinhos. "Temos que ver se é interessante para nós também, mas se for, deve sim, acho que o Brasil deve auxiliar", diz Virene Matesco.
Fonte: BBC Brasil

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